EMÓ EDITORA

Em suas crônicas, Rubens, com sua linguagem acessível e bem construída, aponta como a periferia abriga lições de vida que desafiam preconceitos, estereótipos e os problemas costumazes.

A periferia é um lugar onde a sabedoria das ruas ensina mais do que os livros em estantes. Com essa frase contundente, em sua “orelha”, é apresentado o livro “Na Quebrada: Crônicas da periferia”, do escritor, professor e ativista Rubens Gìàquinto, lançado recentemente pela Emó Editora.

Em suas crônicas, Rubens, com sua linguagem acessível e bem construída, aponta como a periferia abriga lições de vida que desafiam preconceitos, estereótipos e os problemas costumazes.

No livro, encontramos o cotidiano das quebradas, representado em personagens como o professor de xavequês, a mulher do batuque, o senhor que foi pai aos setenta anos, os amigos de infância, o deputado 171 do bairro, a linguaruda que sempre dá com a língua nos dentes e o jovem vendedor de balas, que não se vê enquanto classe trabalhadora, mas “empreendedor”.

Além disso, são relatadas várias situações típicas da quebrada, como as gírias características, o corre do trampo, o pagode de aniversário e o churrasco na laje comemorando o gol do Galo (Rubens tem bom gosto para clube de futebol!).

Como não poderia deixar de ser, a luta de classes – motor da história, segundo Marx – está presente em “Na Quebrada”. Não a partir de discussões teóricas ou um viés academicista.

É mostrada na prática, com as crônicas sobre garotos ricos que dão golpes em trabalhadores de um shopping-center, o jovem da quebrada que sofreu preconceito em um cursinho caro da cidade, o noivado entre a princesinha da fina flor da burguesia mineira e o periférico desempregado, o casal que xinga gente pobre pedindo esmola e a história de Palmério, morto por policiais ao ser confundido com outro garoto. Aqui, há um exemplo triste de como a classe trabalhadora mata seus próprios pares, em defesa dos interesses das classes dominantes. Como diz a música, foi só mais um Silva que a estrela não brilha.

Também há os relatos interessantes dos encontros do autor com Sá, Guarabira, Jô Soares e Nelson Sargento. Uma curiosidade: o saudoso sambista da Estação Primeira de Mangueira tinha um gosto musical eclético, gostava de rock.

Com histórias de humor, drama e forte consciência social, “Na quebrada” é uma leitura indicada, sobretudo, para quem busca conhecer a periferia como realmente é, vista de dentro, e não pelas idealizações de determinados “livros em estantes”

Fonte: https://revistaforum.com.br/opiniao/2025/5/20/livro-de-rubens-gquinto-retrata-em-contos-cotidiano-da-periferia-179659.html