EMÓ EDITORA

Alba Michele

Supervisão de texto

Jessica Candida Ferreira

Marcelle Mayne R. da Silva

Colaboradores

Gilmara Souza

Larissa Lafayette

 

 

1         EXT. RUAS DA COMUNIDADE TABARÉ- DIA               1

Benedito, com a Bíblia em mãos, recita o salmo 91 em voz alta enquanto as pessoas caminham; Jiló distribui uns folhetos com salmos. O menino, cansado e com fome, senta no meio fio e puxa a calça do pai.

BENEDITO (PASTOR)

(gritando)

Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo… praga nenhuma o alcançará…

JILÓ

Pai, vamos para casa!

BENEDITO (PASTOR)

(em voz baixa)

Espera um pouquinho!

(t)

(gritando)

Minha rocha escudo e refúgio e nenhum mal me sucederá…

JILÓ

Pai, vamos para casa! Tô cansado!

BENEDITO (PASTOR)

(abaixando no meio fio)

Meu filho, você está vendo essas pessoas? Elas estão com sede e fome da palavra de Deus…

JILÓ

E eu estou com sede e fome da comida da minha mãe!

BENEDITO (PASTOR)

(mexendo na cabeça do filho e sorrindo, levanta e estende as mãos)

Você tem razão. Vamos embora para casa. Sua mãe já deve ter feito a comida, deve tá soltando fogo pelas ventas.

Os dois vão embora de mãos dadas, conversando.

2    INT. CASA DE PASTOR BENEDITO/ COZINHA- DIA       2

ZILDA

Meu Deus! Ainda bem que vocês chegaram! Eu já tava aqui pedindo pro santo trazer vocês.

BENEDITO (PASTOR)

Ah, mulher! Deixa esse santo quieto! Qualquer dia ele desce desse batente e sai correndo, de tanto que você se pendura no pobre coitado.

Jiló e Benedito caem na risada. Jiló sai da cozinha.

ZILDA

Pobre coitado… Isso, debocha “mermo”! Vocês não sabem da força que eles têm junto de Deus…

Benedito muda o assunto e começa a destampar as panelas.

BENEDITO (PASTOR)

O que fez pro almoço hoje?

ZILDA

Chouriço! Que mania de perguntar sempre a mesma coisa!

BENEDITO (PASTOR)

Êta que hoje ela tá atacada!

ZILDA

Vocês me deixaram nervosa. E ainda tenho essa pilha de louça pra lavar.

BENEDITO (PASTOR)

Deixa que eu lavo. Isso vai te deixar mais calma?

ZILDA

Humm…  Olha o deboche, Bené! Vou dar banho no Paulinho.

JILÓ

(gritando do quarto)

“Manhêê!” Eu já sei tomar banho sozinho!

2.

ZILDA

Sabe nada! A última vez tinha meio quilo de cera no ouvido. Me fez passar vergonha no ponto do ônibus; tive que fazer minha unha de cotonete. Tu acredita nisso?

Benedito ri e balança a cabeça enquanto lava a louça.

BENEDITO (PASTOR)

Acredito, mulher! Vai lá, deixa que eu ajeito aqui.

Zilda vai saindo da cozinha.

BENEDITO (PASTOR)

Escuta!

Zilda olha da porta da cozinha, assustada.

BENEDITO (PASTOR)

Já disse que te amo hoje?

Zilda volta sorrindo e dá um beijo em Benedito.

 

ZILDA

Também te amo, meu preto!

3         INT. CASA DE BENEDITO/ BANHEIRO- DIA              3

ZILDA

Sabe, filho, aqui você nunca vai ver sua mãe brigar com seu pai por causa de religião, porque a gente se respeita, a gente se ama. Quando você crescer também vai escolher seu caminho e você vai entender que Deus é muito bom pra gente, e que todas as religiões ligam a um só Deus.

JILÓ

Você veio me dar banho pra falar isso?

ZILDA

Eu vim fiscalizar seu banho, isso sim! Toma essa bucha, esfrega esse joelho encardido, todo preto.

Jiló esfrega o joelho, pensativo.

3.

JILÓ

Mãe, eu sou preto!

(t)

Mas meu pai disse que não pode adorar imagem.

ZILDA

Quanta besteira! Eu não adoro imagem. Sabe a foto da vovó? Então, quando estamos com muita saudade, a gente não fala com a foto? E a vovó não tá na foto, né? Ela tá no nosso coração. Com as imagens dos santos é mais ou menos assim, entendeu?

JILÓ

Não entendi.

Zilda sorri, entregando a toalha ao filho.

ZILDA

Quando você crescer vai entender. Agora  se seca que vou colocar sua comida.

Zilda vai saindo do banheiro; para na porta.

JILÓ

Mãeee, quando acabar do banho posso brincar com o Foguete?

ZILDA

Não tem Foguete nenhum não, chame seu amigo pelo nome!

Zilda sai do banheiro e vai para a cozinha, falando com o marido.

ZILDA

Agora tu vê! A gente espera nove meses, escolhe um nome bonito, pra depois o povo vim colocar apelido no filho da gente. Foguete…

 

4         INT. CASA DE BENEDITO/ COZINHA- DIA               4

Zilda arruma a mesa do almoço; Benedito chega na cozinha e põe a mão no peito com fortes dores. Ele pega os pratos e leva até a mesa, tentando disfarçar para que Zilda não perceba suas dores. Jiló sai do banheiro e chega na cozinha.

 4.

BENEDITO (PASTOR)

Deixa que eu te ajudo.

Benedito sente fortes dores no peito novamente.

ZILDA

O que foi, homem? O que você tá sentindo? Senta aqui, deixa eu pegar seu remédio. Já falei que você tem que voltar no médico. Mas homem é bicho teimoso!

Zilda corre no armário da cozinha e vê que só tem um comprimido no frasco.

JILÓ

(aflito)

O que é que meu pai tem?

BENEDITO (PASTOR)

Doença de velho, filho. Vai passar.

Zilda entrega o comprimido e um copo d’água para o marido.

ZILDA

Toma. É o último. Amanhã pego na farmácia do seu Juca, peço fiado de novo.

JILÓ

O que é fiado?

ZILDA

Meu Deus! Quanta pergunta! Quando a gente é pobre, ferrado, a gente compra as coisas e paga quando pode, ou a perder de vista.

BENEDITO (PASTOR)

Zilda, não é assim que fala com o menino. Vem aqui, filho, a gente ganha pouco, e mal dá pra pagar as contas. Mas somos pessoas honestas, de bem, então temos “crédito na praça”. Entendeu?

JILÓ

O que é “crédito na praça”?

4.

ZILDA

Ai minha Nossa Senhora! Senta logo nessa cadeira, come essa comida e vai brincar com seu amigo.

Zilda olha para Bené, segura na  mão do marido. Os dois se olham de um jeito preocupado. Jiló observa os pais enquanto come.

 

ZILDA

Tá melhor?

5         INT. ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DE MEDELLÍN- DIA    5

DAMIÃO

Então, Seu Zé, precisamos melhorar nossa comunidade. Pensei em reformarmos as casas, fazer umas melhorias na quadra. O que o senhor acha?

SEU ZÉ

Isso é um problema que quem deveria cuidar é a prefeitura. Eu agradeço muito quando você quer ajudar, mas isso pode me trazer problemas. Com todo respeito que tenho por você, Damião, mas não acho bom o tráfico interferir diretamente na associação de moradores. Isso é meu trabalho!

Damião levanta e começa a andar pela sala.

DAMIÃO

(batendo no peito)

Com todo o respeito que eu tenho pelo senhor, seu Zé. Entendo sua preocupação, mas o senhor me responda sinceramente. Qual político vem fazer algo por esse povo? Aquele Homem de Deus, que de Deus não tem é nada, nem parece que é cria daqui, vem, finge que faz alguma coisa e mete o pé. Que Político está preocupado com as mães que não tem creche pra colocar seus filhos? Aqui quem faz a lei é a gente, o juizado de pequenas causas é que resolve as coisas, assim que funciona na favela. E a decisão fica na minha mão! Quem fica, quem vai, quem tá devendo ou não! Imagina o senhor a situação que tive essa semana, o sujeito bate na mulher toda vez que bebe, a mulher

foi três vezes reclamar. Eu falei pra largar o homem, mas ela tem filhos, depende desse filho da puta. E o que eu fiz? (MORE)

5.

DAMIÃO (CONT’D)

Mandei dar uma coça nele. Ele não gosta de enfrentar mulher? Teve que apanhar de um homem do tamanho dele. Aí o senhor me diz, eu tenho que me meter nessa história?

SEU ZÉ

(servindo café para os dois)

Não, Damião, você não tem! E é disso que tô falando, você ter que se envolver em assuntos que não te pertence…

Eu acho um absurdo que de eleição em eleição, vem eles aqui, prometem e vão embora. E são eles que tem que fazer, né, o voto do povo é pra isso. E o Homem de Deus não é bem um vereador, ele é apenas envolvido com a política, não tem tanto poder assim. E eu tenho apreço por ele.

DAMIÃO

Deveriam fazer, mas ninguém faz! E aí eu faço por eles. Mas abre seu olho com esse Homem de Deus, aquilo é traíra.

 

Damião coloca o copo com café na mesa e começa a sair da sala, mas se arrepende e volta.

DAMIÃO

Aliás, o senhor já pensou em se candidatar a vereador? Só na comunidade o senhor já é eleito. Já imaginou uma faixa bem grande “Zé, o que tá bom vai continuar”; ou não, pode ser assim também: “Zé, esse resolve”. Tá doido! ganhava na certa!

Damião ri e dá um tapinha nas costas de Seu Zé.

SEU ZÉ

Que isso, Damião? Eu já tenho minha aposentadoria, já faço o que posso e já é difícil. Imagina ter que entrar pra política com tanta roubalheira.

DAMIÃO

Todo mundo rouba! Tem que roubar pra ajudar os pobres. Se não for desse jeito, pobre nunca vai ter nada. Pobre só se fo..(faz o gesto com as mãos, mas não completa o palavrão)

( MORE )

5.

DAMIÃO ( CONT’D )

Fica lá a panelinha dos ricos e o dinheiro circulando entre eles, isso não é justo!

(t)

Já leu Robin Hood? Meu ídolo!(bate no peito)

Pense nisso, Seu Zé! Imagina ter um candidato nosso, da nossa comunidade! Pode contar comigo que apoio sua campanha (abraça seu Zé e vai se despedindo)E a nossa festa hein! As crianças da comunidade merecem! Não vai esquecer!

SEU ZÉ

Não vou esquecer. Já estou providenciando isso. Fica tranquilo, Damião.

Seu Zé senta na cadeira e fica reflexivo sobre a possibilidade de vir candidato a vereador.

 

(A câmera faz um plano fechado no olhar de Seu Zé enquanto ele se imagina no palanque, ao lado da esposa, agradecendo aos moradores por ter sido eleito como vereador. Um leve sorriso no rosto, um olhar de sonhador, a satisfação de pensar na possibilidade de chegar a ser um vereador — uma espécie de daydreaming.)

O pensamento de Seu Zé é interrompido com toque de telefone. Ele atende o telefone e não é ninguém do outro lado. Então, levanta da cadeira e começa a arrumar uma papelada.

SEU ZÉ

(falando com ele mesmo)

Tá maluco, José Paulo? Virar vereador com ajuda de bandido e ser preso logo depois. Não é pra isso que você tá aqui! Mas é um trouxa, hein!

6              EXT. RUA DE TABARÉ- DIA                      6

Foguete e Jiló brincam de bolinha de gude na rua.

FOGUETE

Tá ouvindo?

6.

JILÓ

Tô, mas a gente não pode ir lá, você sabe disso. Finge que não tá ouvindo, se concentra aqui.

FOGUETE

Qual foi? Vai “peidar na farofa”? Vamo lá, é rapidinho, ninguém vai perceber que a gente saiu daqui.

JILÓ

Minha mãe vai perceber. Um dia “a gente vamo” lá ,mas por outros motivos, valeu?

FOGUETE

Que motivo?

JILÓ

Ah, esquece! “Alá”, moleque! Olha a bola! Vai, vai, vai…

 

Nesse momento, a câmera em MCU foca em Jiló e desce para a mão com a bolinha, acompanhando o arremesso com o rolar dela. O foco muda da bolinha para o Foguete em MCU e volta a focar na bolinha batendo no triângulo. Após a dispersão das bolas do triângulo, a câmera volta rapidamente a Jiló, já adolescente, comemorando.

7                   EXT. RUA DE TABARÉ- DIA                 7

Foguete e Jiló adolescentes, brincando de bolinha de gude na rua.

JILÓ

(gritando e rindo)

Uhuuu!!! Desiste, parceiro! Eu sempre ganho de tu, seu prego!

FOGUETE

Tá ouvindo? Tum tum tcha tum tum tcha… (faz som com a boca como a batida do som de funk que ouve de longe  e  começa a dançar)

JILÓ

Todo ano ele faz essa festa, dessa vez teve gente daqui que foi, porque tem parente lá.

7.

FOGUETE

Você é bobão, cagão, tem medinho do Damião.

JILÓ

Medinho nada! Esqueceu que a gente estuda lá? E fica quieto que tu não tá na minha cabeça! Aqui ó (aponta pra cabeça) é uma máquina de fazer planos.

FOGUETE

Fala aí, “Céleblo”, qual o do  plano?

JILÓ

É Cé-re-bro!

FOGUETE

E o que foi que eu falei? Cé-le…

 

Ele é interrompido pela vizinha de Jiló, dona Diva, que está  desesperada e aos berros.

DONA DIVA

Jilóóóó, pelo amor de Deus vem aqui, sua mãe desmaiou!

FOGUETE

Caralho! O que a tia tem?

Jiló sai correndo.

8         INT. FACHADA DA CASA DE BENEDITO- DIA             8

 

Jiló corre desesperado e entra em casa.

(A câmera deve percorrer esse percurso de Jiló, como se  o olhar de quem assiste esteja também correndo com o Jiló. Mas a câmera não mostra Jiló entrando na casa. Quando Jiló chega na porta de casa, a câmera vai para Foguete em MCU.)

Foguete tenta parar os carros para que alguém leve dona Zilda para o hospital.

(Nesse momento, a câmera fica em plano aberto para pegar o desespero de Foguete em meio ao caos da rua, podendo alternar entre o aberto e o MCU.)

8.

Jiló chega com sua mãe na rua, com um olhar perdido, um socorro preso na garganta.

(É necessário que a câmera esteja em um plano full rodeando  Jiló que está com sua mãe nos braços desmaiada).

9              INT. CASA DE ERMÍNIA/ SALA- DIA              9

Jonas chega com Larissa, que está levando um bolo para a casa de Ermínia.

JONAS

Olha quem achei na rua!

Juliana recebe Larissa com um abraço.

JULIANA

Que bom que você veio!

LARISSA

Trouxe esse bolo pra gente tomar café, se bem que tá quase na hora do almoço, né.

Jonas assiste ao abraço, desconfiado.

JONAS

(murmurando)

É, dona Ermínia, é o fim dos tempos.

Ermínia está entretida mexendo no computador.

ERMÍNIA (PASTORA)

Que que é, menino? Oi, coisinha! Não vi você entrando. Jonas, direto pro banho que sinto o cheiro de catinguento daqui!

(Essas falas são quase que atropeladas, porque são cenas  dinâmicas entre as personagens)

JULIANA

Mãe! Para de chamar a Larissa de coisinha! Ela tem nome! Que mania chata!

9.

LARISSA

Deixa ela! Tudo bem com a senhora, pastora?

ERMÍNIA (PASTORA)

Larissa, coisinha, tudo a mesma coisa. Senta aí que tô terminando um negócio da igreja nesse computador que ganhei do meu Cristiano…  Olha que coisa mais linda!(mostra o computador ao mesmo tempo que grita o nome de Jonas) Jooonas! Você já foi pro banho?

Jonas chega perto de Ermínia para beijar o pescoço da mãe.

ERMÍNIA (PASTORA)

Sai daqui, menino!

Ermínia pega o chinelo e ameaça o filho.

JONAS

(rindo)

Chinelo é covardia!

A porta abre e entra Cristiano, filho mais velho de Ermínia.

CRISTIANO

Boa tarde! Bença, mãe! Vim almoçar em casa.

ERMÍNIA (PASTORA)

Deus te abençoe, meu filho. Primeiro, tem café.

(gritando)Julianaaaa! Pega um gole de café pra mim, mas coloca na xícara. Já terminou o almoço? Seu irmão veio pra comer.

JULIANA

(entrando na sala)

Poxa, mãe, tudo eu! Cristiano esqueceu a marmita na geladeira, se tá com pressa esquenta ela, porque o almoço vai demorar. Toma seu café (entrega a xícara para Ermínia). Me ajuda na cozinha, Larissa?

Juliana e Larissa saem da sala.

CRISTIANO

Tá fazendo o que, Dona Erminia?

9.

ERMÍNIA (PASTORA)

Preparando o culto que vai ter a noite. Melhor presente que você me deu, meu filho! Me dá um beijo aqui.

Ermínia abre a gaveta de CD e coloca a xícara de café; ela pensa ser um porta xícara.

Cristiano olha sem acreditar.

CRISTIANO

Mãe! O que é isso? Não se mexe!

ERMÍNIA (PASTORA)

Ai, meu Jesus! Onde tem bicho?

Cristiano tira a xícara e mostra um CD à mãe.

CRISTIANO

Dona Ermínia, isso aqui não é pra colocar xícara, é pra colocar CD. Assim, “ó”! Dá pra ver fotos, vídeos, gravar coisas.

ERMÍNIA (PASTORA)

Meu Jesus! Eu crente que tava abafando! E eu contei pras irmãs da igreja que era pra isso. Misericórdia!

Jonas entra na sala de toalha e começa a rir de Ermínia.

JONAS

Na moral, mãe! A senhora é muito craniuda! Caraca, quem ia pensar numa ideia dessa? Só a Dona Ermínia mesmo!

Todos riem de Ermínia, inclusive ela mesma.

Juliana entra na sala e coloca uma garrafa térmica na mesa.

JULIANA

Até que não seria uma má ideia…

(t)

Jonas, quer fazer o favor de colocar um short? Vem, gente, a mesa tá arrumada.

ERMÍNIA (PASTORA)

Sangue de Jesus tem poder! Que vergonha!

9.

CRISTIANO

Vergonha nenhuma! Tenho muito orgulho de uma mãe moderna como a senhora (dá um beijo na testa de Ermínia).

Todos sentam à mesa num clima leve e descontraído.

10   EXT. RUA NA COMUNIDADE MEDELLÍN- FIM DE TARDE         10

Camila está parada aguardando o táxi da amiga, conversando com sua amiga que mora na Zona Sul.

Damião passa e cumprimenta as duas.

DAMIÃO

Bom dia!

CAMILA

Bom dia!

ALÊ

Você fala com ele? Meu Deus! Ele tá armado!

CAMILA

Alô! Eu moro em favela, você esperava ver o que aqui? Aqui tem bandido, tem trabalhador, gente do bem e de todo jeito. E todo mundo se fala, se conhece, é cada um no seu quadrado. Qual o drama?

ALÊ

Desculpa, amiga! Mas é que eu não tô acostumada com isso. Se meu pai sonhar que eu vim aqui, ele me deserda. Meu táxi chegou. Tchau, Mila! Amanhã vai lá pra casa, a gente pode ir pra praia depois da faculdade.

CAMILA

Não sei, tenho que colocar as coisas em ordem. Mas te aviso. Beijo! Vai com Deus!

Alê olha pra Damião, que está parado observando Camila, e entra no táxi.

 

ALÊ

Cuidado, hein!

10.

As duas se despedem e Camila segue pra sua casa.

Damião se aproxima e pergunta se pode acompanhá-la.

DAMIÃO

Posso levar a senhorita até a porta de casa?

CAMILA

Poder pode, mas acho que você tem coisa pra fazer hoje… não tá rolando uma festa?

Os dois seguem andando.

DAMIÃO

E você é a minha convidada! Camila, não é esse seu nome?

Camila mexe na bolsa procurando a chave de casa e responde sem olhar pra Damião, quase que desconcertada.

CAMILA

Tá sabendo bastante! Quer meu RG?

DAMIÃO

Talvez eu precise.

CAMILA

(assustada)

Pra quê?

DAMIÃO

Eu tô fazendo uma campanha de doações de órgãos.

CAMILA

Sério? Pra quem?

DAMIÃO

Pra mim, é que você roubou meu coração.

CAMILA

(rindo)

Nossa! Quanto tempo demorou pra fazer essa cantada? (sorrindo, vai abrindo o portão) Pronto, cheguei na porta de casa em segurança. Pode ir que seu pessoal deve estar te esperando.

10.

DAMIÃO

Nada é mais importante que apreciar sua beleza nesse momento.

CAMILA

(sem graça)

Agradeço seu elogio, mas tenho que entrar. E obrigada pela gentileza de me trazer até a porta de casa. Nunca me senti tão segura (olha pra arma que está na cintura)no lugar onde moro.

Damião pega na mão de Camila e beija.

DAMIÃO

Tchau, princesa! Te espero no baile.

CAMILA

Tchau! Vou pensar no seu caso.

Eles se olham. Camila entra, fecha a porta e encosta na porta sorrindo, suspirando por Damião.

11        EXT. RUA DE CAMILA/ MEDELLÍN- FIM DE TARDE       11

Damião segue na direção de seus comparsas e passa por mãe Dinda.

DAMIÃO

Bença, mãe!

MÃE DINDA

Deus te abençoe, meu filho! Juízo, hein! A menina é de família.

DAMIÃO

Eu também sou! Tô apaixonado!

Mãe Dinda ri e segue seu caminho.

12        EXT. RUA DA COMUNIDADE MEDELLÍN- FIM DE TARDE    12

Mãe Dinda avista Lidiane, diretora do Colégio local.

Lidiane está cheia de livros e deixa um livro de História do Brasil cair no chão.

12.

Mãe Dinda pega o livro e entrega para Lidiane, sorrindo.

MÃE DINDA

Pena que contam mentiras nesse livro. Hoje é feriado, e a professora trabalhando?

LIDIANE

(rindo)

Vida de educador não tem feriado certo. Mas fui buscar esses aqui no carro, que tá lá do outro lado por causa da festa das crianças.

MÃE DINDA

Essa festa é O ACONTECIMENTO! Deixa eu ir, minha filha. Aparece lá qualquer dia, tá precisando de uns banhos. Deus te abençoe!

LIDIANE

Pode deixar, vou sim. Amém!

As duas seguem seus caminhos.

13        INT. CASA DE LÉO/ SALA-  TARDE                    13

Nelson e Margarida estão à mesa tomando café da tarde; Léo entra na sala fardado.

NELSON

Se você soubesse como me deixa triste te ver com essa farda…

MARGARIDA

Não fala assim com o menino!

Léo senta à mesa.

LÉO

Boa tarde pro senhor também, pai! Mãe, seu menino tá um homem. Me passa, por favor, o queijo.

Margarida levanta e beija a cabeça de Léo.

13.

MARGARIDA

Pra mim, você vai ser sempre o meu bebê! Vou pegar na geladeira. Hoje vai trabalhar à noite, filho? Quer leite, Nelson? (faz essa pergunta já na cozinha)

Nelson não responde.

LÉO

Pai, quando o senhor vai aceitar a minha escolha? Caramba! A faculdade não é pra todo mundo. E não quer dizer que depois eu não faça uma. Te dou um diploma! É isso que vai te deixar feliz?

NELSON

Ah! Você quer mesmo falar de felicidade?

MARGARIDA

Gente! Pelo amor de Deus! Não comecem com essa ladainha, vamos ter um momento de paz. Desde que Leonardo entrou pra policía esse virou o assunto nesta casa. Eu não aguento mais isso, qualquer dia eu infarto!

Léo se levanta, aborrecido.

LÉO

Sabe de uma coisa, perdi a fome! Vou tomar café na rua.

MARGARIDA

Meu filho, senta aí. Não vai de farda pro trabalho, hoje tem festa aqui, você vai ficar visado. Nelson, por favor também. Ai meu Deus! Me ajuda, Senhor! Eu só quero paz nessa família!

LÉO

Vai ter paz, mãezinha!(beija a cabeça da mãe) De lá vou pra casa da Nanda, não volto hoje! Bença! Bença, pai!

MARGARIDA E NELSON

Deus te abençoe!

Léo sai e fecha a porta.

13.

MARGARIDA

Tá satisfeito? A gente só tem esse filho, nosso único filho, Nelson. E você não levanta uma bandeira de paz com ele. Aí ele vai atrás dessa garota que mora lá praquelas bandas de gente rica. Isso sim que me preocupa. Mas não, o problema maior do mundo é o Leonardo ser policial. A chave de cadeia não é ele, é essa Nanda aí, você não enxerga? Pra mim chega! Aproveitar pra ir na igreja. Vou é rezar pra Nossa Senhora da Aparecida, pedir pra acalmar os ânimos dessa casa!

14   EXT. FACHADA DA CASA DE DAMIÃO(FORA DE MEDELLÍN)- DIA 14

Dandara chega de carro na casa de Martha. As crianças a abraçam.

DANDARA

Olha o que a dinda trouxe! Presente pra todo mundo! Até quem não é da Dinda vai ganhar!(mostra um presente pro cachorro). Feliz dia das crianças!

 

Dandara e Martha se abraçam. Dandara avalia Martha.

DANDARA

Tá tudo bem?

MARTHA

Tá sim, é cansaço mesmo.

DANDARA

O nome desse cansaço é Damião?

MARTHA

Pronto! Agora vai todo mundo brincar porque a Dinda vai conversar com a mamãe.

Todos entram em casa.

15        INT. CASA DE DAMIÃO/ COZINHA- DIA            15

Martha vai em direção à geladeira e pega uma cerveja.

15.

MARTHA

Toma uma?

DANDARA

Me dá um refrigerante porque tenho que subir pra Petrópolis. Nada de carteirada hoje, né, amiga? (rindo)

 

Martha, séria, pega o refrigerante e coloca no copo de Dandara. As duas brindam.

MARTHA

Mas me conta, vai fazer o que na Serra?

DANDARA

Não vim para falar de mim, vim pra saber de você (apontando pra amiga). Desembucha, o que Damião aprontou dessa vez? Por que tu não tá lá na festa hoje?

MARTHA

Aprontou nada! Que festa o quê? Não vou ficar posando de primeira dama de bandido. Tem dias que tô é de saco cheio! Será que vai preso? Será que morreu? A cada vez que esse telefone toca meu coração dispara.

DANDARA

Ninguém te enganou, Marthinha. Você sabia dessa vida que ele leva. Ele assumiu seu filho, faz de tudo pro menino como se fosse dele, olha essa casa… (faz um gesto com as mãos) Olha a estrutura dessa família! Ontem tu tava fazendo faxina e sendo humilhada em casa de madame. Para de reclamar de barriga cheia! Não existe homem perfeito!

MARTHA

Dandara, eu não tô falando de um marido médico ou professor, eu  tô falando de BANDIDO (altera a voz).

DANDARA

Tá doida? Fala baixo, se as crianças ouvem isso… Ele é um empresário (risos) do tráfico, mas empresário.

MARTHA

E você acha engraçado! Sinceramente, eu não sei de que lado você tá.

15.

DANDARA

Do seu lado, irmã, sempre do seu lado! Mas eu não posso esquecer que ele é meu cliente, assim como os outros. E se hoje tenho essa vida e posso dar uma vida boa pro meu filho, é graças a eles.

O telefone de Dandara toca.

DANDARA

Deixa eu ir que o dever me chama. Vim aqui pra te dar um abraço, ver as crianças… Tava morrendo de saudade de vocês. Mas tenho que ir para um compromisso.

As duas se abraçam e Martha leva Dandara até o portão.

16   EXT. FACHADA DA CASA DE DAMIÃO (FORA DE MEDELLÍN)- DIA 16

Martha vê um carro escuro atrás do carro de Dandara. Martha fica tentando adivinhar quem é e não consegue.

MARTHA

De quem é esse carro atrás do seu?

DANDARA

É um amigo advogado, ele também tem coisas pra fazer lá em Petrópolis.

Martha olha desconfiada.

MARTHA

Mas hoje é feriado.

DANDARA

Que que é agora? Virou detetive? Libera meu anjo da guarda, eu hein! Tchau!

Dandara anda em direção ao carro e para na porta.

DANDARA

(gritando)

Te amo, irmã!

16.

MARTHA

(sorrindo e falando baixo)

Também te amo, irmã! Doida!

Os carros saem juntos e Martha fica observando.

17   INT. CASA DE CLÉO/ QUARTO DE CLÉO- FIM DE TARDE       17

Cléo se arruma para mais um dia de programa e, enquanto passa batom, conversa com o espelho.

CLÉO

Espelho, espelho meu, existe uma mulher mais linda do que eu? Não, não existe, maravilhoooosaaa! (beija o espelho)

É hoje que chego cheia dos “acués” e compro meu carrinho.

A mãe de Cléo bate na porta e a chama pelo nome de batismo(não dá para ouvir porque ela fala bem baixinho).

 

CLÉO

Manhê!(pega no rosto de sua mãe)Lindinha da minha vida, quando a senhora vai entender que sou uma mulher? Olha bem pra mim, fala se não sou uma mulher linda? (dá uma volta).

NEUZA

Mas é estranho pra mim… Deixa pra lá! Vai trabalhar hoje, no feriado? (vai arrumando as coisas de Cléo que estão em cima da cama enquanto fala)

CLÉO

Mãezinha, sim! Vou trabalhar hoje, amanhã e depois, e depois, e até te dar uma vida de rainha.

(t)

Tô indo cedo, porque preciso passar na minha amiga antes. E não me espera, que hoje vou pro baile (rebola a bunda e ri pra tentar alegrar a mãe).

(t)

Escuta, rainha(segura no rosto de Neuza), eu trabalho muito porque vou esconder aquela tua vassoura, arrumar uma empregada pra tu, e te encher de presentes! Agora, tenho que ir. Bença, mãe! Te amo!(dá um beijo na testa da mãe e sai)

Neuza pega a roupa de Cleo para dobrar.

17.

NEUZA

(em voz baixa)

Deus te abençoe! Vai com Ele!

Dentre as roupas que estão na cama, está um macacão azul de Cléo quando criança. Ela cheira a roupa com ternura.

 

NEUZA

Vou te amar do jeitinho que você quiser ser. Porque eu te amo tanto! Chega dói meu coração. Deus te abençoe, minha filha!

18             EXT. RUA DE MEDELLÍN- FIM DE TARDE           18

Cléo cumprimenta com um tchauzinho Carrapato e as pessoas ao redor e segue.

 

DVD

Mó gata, mora aqui faz muito tempo?

CARRAPATO

Se liga no bagulho, a Cléo é cria! E não mexe com ela, Damião se amarra na dela, valeu? E pra mim é como se fosse irmã.

Cléo para em uma vendinha, compra uma bala e uma água e olha para DVD. Seus olhares se cruzam e ela vai em direção ao ponto de ônibus. DVD disfarça e, sem que ninguém o veja, vai atrás dela.

DVD

Prazer, meu nome é DVD, quer dizer, Joilson.

Cléo olha na direção oposta para ver se o ônibus está vindo, depois olha para o relógio. Abaixa os óculos escuros.

CLÉO

Tudo bem? Te conheço? Porque eu não me lembro da tua figura aqui.

DVD

Não, cheguei há pouco tempo. Eu não morava aqui não.

18.

CLÉO

Honey, presta atenção, eu não sei quem você é, e tampouco me interessa! Não falo com estranhos. Agora, me dá licença que meu ônibus chegou.

Entra no ônibus. Pela janela, Cléo observa DVD.

DVD

(falando sozinho)

Filha da puta! Tu vai ver só, ninguém fala assim comigo! Querendo me esculachar?

Do ônibus, Cléo olha e mexe na navalha que está dentro da bolsa. O ônibus parte.

19   EXT. RUA DO PONTO DE ÔNIBUS DE MEDELLÍN- FIM DE TARDE  19

Damião se aproxima de DVD.

DAMIÃO

Qual foi? Algum problema com a Cléo? Ou tá recebendo entidade pra falar sozinho?

DVD

Não, problema nenhum não!

DAMIÃO

Chega aqui, vou te mandar logo o papo reto pra você entender só uma vez, dá trabalho repetir e eu não tenho muita paciência. Aqui ninguém mexe com mulher nem com criança, e tem que respeitar os mais velhos. A Cléo não é diferente dessa regra. Você tá me entendendo, parceiro?

DVD

Que isso, Damião! Qual foi, tá me estranhando?

DAMIÃO

Não tô te estranhando, tô te alertando. Agora rala, a festa tá rolando e tem trabalho pra tu.

DVD vai em direção à festa e Damião fica observando.

20                  INT. SALÃO DA KATE- DIA            20

Pink entra no salão de Kate.

PINK

Oieee! Vim fazer meu cabelo, diva maravilhosa! Hoje tá babado aqui, festa dos erês, baile, tô como?

Pink começa a dançar.

KATE

(sorrindo)

Lá vem ela!

MAYARA

Que cabelo, Pink? Você é careca!

KATE

Deixa ela, menina! A cliente que mais me economiza, senta ali naquele lavabo, eu lavo a cabeça, seco, escovo…

 

MAYARA

(rindo)

Escova?

PINK

Escova sim, mona! Qual o problema? Inclusive(olhando para o espelho), hoje ele tá beeeeem ressecado.

KATE

(rindo)

Tô falando, essa porra é maluca!(fala com Mayara pelo espelho)

MAYARA

Pink, você não existe!

PINK

Vi sua irmã agora passando com sua avó. Tá com uma carinha de que tava passando mal…

MAYARA

Minha vó?

20.

PINK

Não, a sua irmã. (passa a escova no cabelo se olhando no espelho)

MAYARA

Aquela vive comendo bobagem! Deve ter comido algum “X alguma coisa” da vida.

PINK

Mas me conta, vai se inscrever praquela bolsa de New York?

KATE

Gente! Ela muda de assunto assim (estala o dedo)!

MAYARA

Tenho chance não!

KATE

Que isso, coisinha? Uma garota linda dessa, um desbunde de mulher. Vai ficar perdendo tempo nesse lugar? Eu hein! O mundo é grande, meu amor. Ah! Eu com a sua idade e esse corpitcho, tava era longe daqui!

Pink começa a desfilar pelo salão.

PINK

E eu? Idealiza! Eu belíssima na passarela (jogando beijos pros lados e mexendo no cabelo) com esse cabelo enorme, ia parar Nova York! Te mete. Ai! Deus não dá asa à cobra.

Mauro chega na porta do salão para falar com Kate. Pink fica sem graça.

MAURO

Quer alguma coisa do mercado? Ainda tá aberto.

KATE

Compra umas besteirinhas pra gente comer a noite, o que você quiser tá bom. O leite da Mylena e o nosso vinho.

Kate sorri e manda beijo.

Mauro sai.

20.

PINK

Quer alguma coisa do mercado? (fazendo voz grossa imitando Mauro) Com todo respeito, amiga, QUE HOMEM!

KATE

(rindo)

Palhaça! Vai, senta logo ali pra lavar esse cabelo!

MAYARA

(rindo)

Vocês não existem! Se um dia eu for embora daqui, vou sentir muita saudade desse salão. Vocês me divertem!

PINK

(penteando o cabelo imaginário)

Se um dia, não! Você vai, sim! Escreve o que tô te falando, eu nunca erro, meu amor!

KATE

Pronto! Agora ela é vidente!

Corta a cena como se elas tivessem discutindo. Aparecem só as imagens, sem o som.

21             EXT. RUAS DE MEDELLÍN- NOITE                 21

A procissão da Igreja Católica passa pelas ruas de Medellín. Na cena, estão os fiéis cantando músicas de devoção à Nossa Senhora, animados por um carro de som.

 

22             INT. IGREJA DA PASTORA ERMÍNIA- NOITE       22

Na cena, os fiéis estão sentados em cadeiras de plástico e pastora Ermínia prega fervorosamente. A câmera foca em Juliana e Larissa, que estão de mãos dadas. Juliana olha apaixonadamente para Larissa, mas ela não percebe.

    

23             INT. TERREIRO DE MÃE DINDA- NOITE            23

No terreiro, os médiuns encontram-se em roda (Fátima é uma das médiuns), todos vestidos de branco. Mãe Dinda está no meio da

roda junto com Cíntia. A mãe de santo passa umas ervas no corpo da menina, pedindo a cura dela.

24             EXT. RUA DA QUADRA DE MEDELLÍN- NOITE       24

A câmera mostra, em plano super aberto, do alto, as pessoas no baile, dançando, comprando bebida e comida nas barraquinhas. Há pessoas passando de moto também. A câmera foca em Damião. Depois, como se fosse o olhar de Damião, a câmera mostra a procissão da igreja católica passando. Damião manda que parem o som do baile e, ao mesmo tempo, ele e os outros bandidos abaixam suas armas em sinal de respeito.

25   EXT. RUA DE MEDELLÍN/ SUBIDA DO MORRO- MADRUGADA      25

Cléo está chegando na comunidade (som do baile ao fundo). DVD está sozinho, completamente bêbado, sentado em um banco da praça.

DVD

La belle de jour voltou.

Cléo acelera o passo e finge não ouvir, mas compreende a referência. DVD segura no braço de Cléo.

DVD

Tá surda?

CLÉO

Me solta que eu não te dou “essas confiança”! Quer que eu grite aqui? Se eu der um grito, ponho essa favela a baixo, vem Damião e os “homi” dele todo.

DVD

Qual foi? Até te elogiei em francês, sua vadia!

CLÉO

Enfia seu francês no seu cu! Já falei pra me soltar, eu dou um grito vem todo mundo, quer experimentar?

DVD aperta a bunda de Cléo.

DVD

Grita! Ninguém vai te ouvir, tá todo mundo no baile.

Quero experimentar você!

25.

CLÉO

Mas eu não quero, seu bandidinho de merda!

Cléo cospe na cara dele e tira sua navalha da bolsa, apontando para DVD.

CLÉO

Vem! Você não é macho? Filho da puta, me encara agora.

DVD fica assustado com a reação de Cléo.

Fim do capítulo 1.

 

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